terça-feira, 30 de junho de 2009

O relógio da felicidade

Numa pequena e pacata cidade do interior, um inventor -daqueles que ninguém dá crédito - inventou um relógio que só marcava o tempo em que as pessoas se sentiam felizes. Era um relógio movido à felicidade.
Instalado na torre da matriz, em meio a uma grande festa de inauguração, o relógio funcionou alguns minutos e parou. Muito tempo se passou e ele permaneceu inerte indicando que as pessoas não se sentiam felizes, apesar da fartura na mesa e do trabalho que nunca faltou na lavoura produtiva. Com o relógio parado aquela gente passou a se sentir infeliz sem saber o motivo.
Muitos perdiam preciosos minutos defronte ao relógio e, desolados, constatavam a total falta de movimento dos ponteiros. E as pessoas se sentiam cada vez menos felizes por acreditar que não tinham motivos para isso, já que o relógio -movido à felicidade- não acusava o tempo.
Certo dia, porém, num daqueles dias em que todos estão com preguiça e infelizes, o inventor que ninguém dava crédito resolveu examinar o relógio, quando descobriu que ele não funcionava devido a um pequeno defeito, e não por falta de felicidade das pessoas.
Resolvido o problema o relógio voltou ao trabalho e todos se sentiram felizes. Ah sim! Para sempre.

Notinhas:
- Certas pessoas somente se sentem infelizes porque alguém lhes disse isso.
- A felicidade também precisa de manutenção.

(Piaia)

Sem perguntas, por favor

Não me pergunte porque o tempo passa tão depressa.
Por aqui ele também passou
levando sonhos que nem deu tempo de sonhar,
fantasias que nem deu tempo de contar.
Levou canções, ideais, comportamentos,
sem dar tempo de vivê-los.

Não me pergunte porque o tempo passa tão depressa
deixando em cacos nossos castelos,
transformando em ruínas nossos planos.
Não me pergunte porque o tempo passa tão depressa.
Não me pergunte porque o tempo passa.

(Piaia)

Primavera

Muito mais do que flores
a primavera faz brotar os sonhos
em quem soube semear canções
nos ventos gelados do inverno.

(Piaia)

Não se irrite

Quem perde a paciência perde a razão.
Quem desrespeita perde o respeito.
Quem se exaspera perde o encanto.
Quem se altera perde o brilho.
Quem humilha torna-se ridículo.

Na próxima vez em que você se irritar, não deixe de explodir sua raiva contra quem lhe irritou. Mas faça isso diante de um espelho. Você vai ficar surpreso ao se ver tão ridículo.

(Piaia)

CULINÁRIA DA VIDA

Receitinha para uma agradável convivência familiar:

1- Coloque na tigela do lar uma grande quantidade de respeito, não sem antes peneirar bem para retirar qualquer impureza.

2- Adicione uma xícara bem cheia de compreensão.

3- Acrescente duas colheres, ou mais, de paciência.

4- Misture tudo adicionando carinho a gosto, que é para dar "liga".

5- Unte a forma de sua consciência com pensamentos e atitudes positivas.

6- Despeje tudo e asse brandamente no calor de seu coração.

7- Depois de pronto faça uma cobertura com muito afeto, recheie com seu amor e enfeite com tempinhos disponíveis de atenção.

Sirva em pedaços iguais, indiscriminadamente.

(Piaia)

Fórmula

A fórmula da felicidade é puramente matemática. Anote:
1- SOME para ser mais útil;
2- DIMINUA a ânsia de querer mais que o necessário;
3- MULTIPLIQUE as oportunidades de auxiliar;
4- DIVIDA o que lhe é demais.

Resultado final:
A sensação de ser alguém em paz consigo próprio.
Faça essa conta e não faça "de conta".

(Piaia)

Conversa Fiada (também tenho esse direito)

Penso, logo, escrevo.
Escrevo, logo, sinto.
Sinto, logo, reflito.
Reflito, logo, penso.
Se penso, reflito e escrevo,
porque não pensar, refletir e escrever palavras mais interessantes?


Às vezes tenho a impressão de que escrever é desperdiçar letras.
E quantas letras jogadas ao vento!
Se recolhidas, com paciência, talvez pudessem formar palavras bem interessantes. Ou, quem sabe, se o próprio vento se incumbisse de uní-las? Com certeza ele teria impressões surpreendentes a nos revelar.
Enfim, é assim! Vou por aí, jogando minhas letrinhas ao vento para, talvez um dia, se enroscarem em algum canto dispostas em palavras que lhe agradem.

(Piaia)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Filosofando

Filosofia do trapezista:
"Na vida, o importante é manter o equilíbrio”.

Filosofia do homem que vive em paz com o mundo:
Idem anterior.

(Piaia)

Pensamentos ao vento

O vento que traz recordações é o mesmo que leva nossas mágoas.
O vento que despenteia cabelos é o mesmo que move moinhos.
O vento que resseca a péle é o mesmo que traz a alegria da chuva.
O vento que destrói barracos é o mesmo que espalha sementes.

Vento sem eira nem beira
que espalha e que leva do mundo a sujeira.
Para alguns é tão bom, para outros, tormento.
Depende do lado que você está do vento.

(Piaia)

Sinceramente?

A sinceridade é como uma arma carregada e engatilhada.
Precisa estar em mãos muito hábeis para não causar danos;
Precisa estar em mentes muito arejadas para não destruir sonhos.
Com muita freqüência, a sinceridade é utilizada inabilmente, causando danos irreparáveis.
Com pouca freqüência a sinceridade é utilizada para construir, iluminar, abrir novos horizontes, valorizar o ser.
A sinceridade é uma luz às vezes ofuscada pela falta de habilidade.

(Piaia)

Músico

Pensou o musico diante da platéia ignorante:
“Que esse acorde não lhe acorde”.

Arteiros

Uma caneta, um pincel
Mil idéias, um papel
Sonhos loucos num martelo
Mãos que buscam o mais belo
São projetos delirantes
São cabeças vacilantes.
Vagabundos,
Operários da ilusão.
Ideal que não se alcança
Vem revolta e vida mansa
Falso stress do conformismo
Não tem volta esse batismo
Que é de sangue.

(Piaia)

Passa

Passa passarela, passa.
Passam pedágios
Passam árvores, andarilhos.
Passam pontes, prostitutas.
Passa o tempo.
Passa passarela, passa.
Passam motos e caminhões
Passam carros e pensamentos.
Passa radar
Passam campos e plantações
Passam rios.
Passa passarela, passa.
Tudo passa.
Só não passa essa dor de saber que tudo passa.
Até você.

(Piaia)

Longe

Chuva no pára-brisa me leva ainda mais longe.
No estacionamento do supermercado vejo cada um vivendo sua vida.
E eu tão longe de todos vivendo suas vidas.
Será que alguém se lembra de mim tão longe?
Musicas tristes me fazem sonhar.
Levam-me ao passado.
Tão bom...

(Piaia)

O cão

Na cena solitária de uma paisagem triste o cão se destaca.
Cabisbaixo, seguindo os passos de seu dono andarilho, não se manifesta.
Simplesmente acompanha, sem ser preciso obedecer.
O silêncio da natureza quebrado por carros e caminhões.
Todos passam e nada aproveitam.
Os cães preferem companheiros de almas puras.
Por isso as crianças, os mendigos, os simples...
Ainda bem.
Melhor que um cão que lhe segue é um cão que lhe acompanha.

(Piaia)

Homem sem mão

Na beira da estrada, de boné, roupas surradas.
Um rasgo na mochila deixa visível a marmita.
Rosto feliz, de quem nada deve, de dever cumprido.
Suor de árduo trabalho.
- Vai carona aí?
- Brigado, andar faz bem, tô pertinho.
Aí vai um homem feliz.
Trabalhador de uma só mão.
Com minhas duas, agarro-me ao volante, pensando:
Seria mais feliz se tivesse o par?
Heim?

(Piaia)

Observações de um ex-viajante

Paredes, mesas, pessoas
Computadores
Risos, planos, segredos
Computadores
Obrigações, farsas e dores
Computadores
Intenções boas e más
Computadores
Cafezinho, risadas e pernas
Computadores
Arquivos, pastas, impressores
Computadores
Jobs, sigilos, mudanças
Computadores
Cabelos, espelhos, batons
Computadores
Tipos, sonhos de amores
Computadores
Sandálias, tamancos e passos
Computadores
Escadas, janelas, alarmes
Computadores
Narizes, olhares agressores
Computadores
Mãos, dedos indicadores
Computadores
Botões, teclados, monitores
Computadores
Fffff...
Saudade da estrada.

(Piaia)

sábado, 13 de junho de 2009

Pedras que pulam

Na área de descanso espero a chuva amansar.
Demora.
Ameaça de sol, olhos semi-serrados, preguiça, pensamentos.
Percebo os pedriscos saltando em direção ao sol.
Centenas.
Pedras que pulam???!
Fixo o olhar e pasmo:
Centenas de sapinhos celebrando a luz, saudando o sol.
Pequenos, corajosos, arriscando-se por um momento de vida.
Breve, porém, é a vida.
Invejo-os.

(Piaia)

Que chuva!

Molhado, cansado, pressionado.
Vidro fechado, tudo embaçado, quente demais.
Não dá pra ver nada, ninguém.
Só eu no espelho com mil fantasmas ao redor.
Tanto ainda por fazer e eu preso em líquidas grades.
Rádio, ventilador, pensamentos.
Tudo chato demais.
Mas o trabalho alegra e não há o que esperar.
Lá vou eu com chuva e tudo.
Puts, ta forte.

(Piaia)

Chuva no pára-brisa

Hoje cedo o livro me falou:
A caridade de dar é fácil.
Qualquer um faz.
Difícil é a caridade da paciência.
Por isso vale muito mais.
Agora, enquanto escrevo, o rádio me diz:
Se existisse somente o Dó não haveria canção.
Penso que captei vossa mensagem.
A vida é mesmo um barato.
Chuva no pára-brisa faz a gente viajar.

(Piaia)

Rei Posto

O rei perdeu seu reinado
porque permaneceu sentado à beira do caminho.
Aos meus filhos ele não diz nada.
Nas curvas da estrada
Está sozinho.

(Piaia)

Hai Kai de inverno

Triste inverno.
Aos olhos de quem ficou
Quem foi não volta.

Piaia

Comigo mesmo

Tô ficando cheio de conversar comigo.
Estradas, montanhas, pedágios, passarelas.
E os assuntos sempre os mesmos.
Estar sozinho é bom, às vezes.
O chato é que sempre sei quando estou mentindo.
Contar vantagem prá quem?
Solidão é algo que dói, de verdade.
Celular, adrenalina.
É o Bocão.
- Faaaaaala...
- Só pra saber se você tá bem.
Bom ser lembrado.

(Piaia)

Hai Kai da janela

Ventinho frio
Janela bate solta
Espera em vão

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O vira-lata

Na ida estava ele inerte, deitado no acostamento.
Para todos que passavam preocupados com a chuva,
só mais um vira-lata morto, atropelado.
Na volta, sentado no mesmo local,
enquanto um jovem acariciava sua cabeça.
Pela expressão, nem ele acreditava que havia escapado dessa.
Alguém estendeu a mão,
mesmo quando parecia que não havia mais nada a fazer.
Nem todo jovem é um imbecil.
Nem todo vira-latas deitado no acostamento está morto.

(Piaia)

MICRÔNICAS

O nome deveria ser "Micro Crônicas", mas como soa muito feio, mudei para "Micrônicas". Há muitos anos o jornal Noticias Populares (aquele que soltava sangue) publicava uma crônica que não me lembro quem assinava. Era uma micro crônica, em cerca de 10 linhas, onde o cára falava tudo, passava tudo, não ficava devendo nada. Muito bom mesmo. O que eu tento aqui é apenas imitá-lo, embora esteja muito, mas muito longe dele. '

Piaia