quarta-feira, 31 de março de 2010

Minha rua

Moro numa rua que não tem nome,
Não tem idade,
Que não tem graça.
As crianças cresceram,
Os velhos morreram,
As árvores secaram.
Só adultos entristecidos restaram,
Nem minhas lembranças sobreviveram.
Moro numa rua que sobe e desce,
Mas nunca aparece.
Lá o vento não sopra perfumes,
As janelas não se abrem para o sol,
Os vizinhos não se falam sob as estrelas.
Moro numa rua morta,
Mas eu estou vivo.
Por isso vou embora dessa rua,
Vou pra lua,
De onde possa vê-la nua.

(Piaia)

terça-feira, 16 de março de 2010

Preciso, preciso, preciso, preciso...

Frio, escuridão
Ninguém por perto pra me dar a mão
A esperança já se foi faz tempo
Só posso ouvir o barulho do vento

Pra onde foi todo mundo?
Fui deixado sozinho
Fui deixado no fundo
Qual é mesmo o caminho?

Acordei só depois da partida
O que foi feito da vida?

Preciso bem mais que uma sopa
Que uma nova roupa
Que uma linda boca
Que uma mulher louca
Preciso, preciso, preciso, preciso...
Que você me ajude
Que você me ouça
Que você me entenda
Que você me use
Que você me lamba
Que você me ascenda
Preciso, preciso, preciso, preciso...

(Piaia)

Sutil como um arroto

Se você pedir
Tomo banho no inverno
Posso até usar cueca
Vou e volto do inferno – usando terno

Se você pedir
Jogo fora meu boné
Não aperto mais espinhas
Uso talco antichulé – e lavo o pé

Se você pedir
Não falo mais um palavrão
Troco o tênis por sapato
Vou pro banho de roupão – mas num vem não

Se você pedir
Leio a Veja direitinho
Deixo de tomar cerveja
Se beber é só um tiquinho – com torresminho

Se você pedir
Nunca mais solto uma bufa
Escovo os dentes todo dia
Não me meto mais em truta – e nem com puta

Se você pedir
Mudo meu perfil escroto
Passarei a ser gentil
E sutil como um arroto – com perdigoto

(Piaia)