sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Partida

Partida é arado
Sulca o peito em estrias de sangue
Revolve a fé
Expõe as mágoas
Fere o sentimento
No preparo da seara, o tempo
Difícil plantio da semente mudança
A que chamam esperança

(Piaia)

Silêncio

Selecionado entre os 50 melhores no 13º Concurso de Poesia da Biblioteca Popular de Afogados, 2011.

Não me cobre pelo silêncio
A ausência de palavras é estrada do pensamento
E eu preciso pensar
Não me cobre pelo silêncio
Pois o tambor vazio é o que ressoa alto
E não há o que falar
Do silencio nasce a luz, a poesia
Em silencio nasce a arte
Em silencio começa o dia
Como, destarte, aceitar o vizinho barulhento?
Prefiro o silencio à palavra vazia
À promessa vã, ao comentário truculento.
O silencio é companheiro que aconselha
Que mostra e cobra consciente
Que desmascara e sua cara avermelha
É simplesmente o som ausente
Se não tens o que falar
Presenteie com o silencio
Tão único que nem tem com o que rimar

(Piaia)

Brasil

Quem és, Brasil?
Que fala todas as línguas
Compreende os idiomas
Tem a alma em hematomas
Que reza todas as rezas
Crê em tudo que vê
Mal escreve e menos lê
Enxerga com todos os olhos
Pinta em todas as cores
Sem preconceito ou temores

Quem és, Brasil?
Pátria mãe gentil
Que descuida do próprio filho
Só nos outros enxerga o brilho
Canta todas as canções
Sem razão, só emoções
Vê com olhos de poesia
Da tragédia à folia
Quem és, Brasil?
Pátria mãe servil

(Piaia)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Não sei rimar

5.o lugar no "Concurso Poetizar o Mundo" / Curitiba - 2010

Sou livre
Mas não sei cantar
Brasileiro
Sem saber sambar
Sou rei
Sem poder reinar
Mendigo
Sem o que sonhar
Cristão
Que não sabe orar
Sou pai
Sem exemplo a dar
Sou filho
E não sei educar
Marido
Que não soube amar
Sou culto
Mas não sei ensinar
Tímido
Não quero mostrar
Sou feio
Todos vão notar
Pobre
Devo trabalhar
Sou gordo
Um preço a pagar
Amigo
Nada a declarar
Sou sério
Todos vão pensar
Sou bem
Vão acreditar
Sou mal
Alguém vai julgar
Sou eu
Que não sei rimar

(Deni Píàia)

Despir das paixões

Queria poder me despir das paixões
para pensar na morte
no sentido da sorte
encontrar o meu norte

Queria poder me despir das paixões
para entender seus conceitos
concluir alguns feitos
tomar alguns jeitos

Queria poder me despir das paixões
para falar o que penso
viver menos denso
ao perfume de incenso

Queria poder me despir das paixões
para falar do que sinto
prometo, não minto
ao sabor de um tinto

(Piaia)

Sem sentido

Não tenho pra onde
Por onde
Porquê...
Não tenho destino
Não sou mais menino
Não tenho vontade
Coisa da idade?
Não tenho motivo
Não faz sentido
O que tenho sentido

(Piaia)