terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Não é mais você

o
Um vulto que passa, um perfume que fica.
Quem passou tão depressa?
Não é mais você quem vai ali,
Não mais você, de tanta graça.
Quem passou, que nem vi?
Agora pedra que anda e pouco fala,
Recalques, desgostos, infelicidade.
As mudanças do mundo já deveriam bastar.
Não entendo o porquê de alguém mudar
E as coisas, as modas, até os sabores.
Não é mais você quem vai ali.
Quem passou, que nem vi?

Deni Píàia

Lendo Drummond

Selecionado no 1º Concurso Literário da Big Time Editora para a antologia "Versos soprados pelos ventos de Outono" - vol 1, São Paulo-SP, 2012.

Soa música de passarinho.
Sinto assim...
Carinho de mãe,
Cafuné de criança,
Aconchego sem fim.

Tradução do melhor gibi,
Paz de domingo cedinho,
Chuva caída mansa,
Esperança de ano novo.

Sabor de jabuticaba pretinha doce,
bolo de fubá da avó,
pão de queijo com café, frescos.

Resgata na memória sorriso não dado,
Beijo frustrado,
Abraço contido. Aquele
carinho que nunca chegou.

Nos versos de Drummond reconheci meu pai,
Descobri minhas fraquezas enlatadas,
Enxerguei nas pessoas o simples.
Senti alegria de amigo que telefona:
-Alô! Quero saber de você.

Perfume de rosa tímida
Assim como não mais se faz.
Se morrer lendo Drummond, então
morrerei em paz.

Como me sinto pequeno ao ler Drummond!
Pequeno enquanto poeta,
Liberto enquanto tímido,
Raso enquanto culto,
Grande enquanto humilde,
Inútil enquanto arauto,
Privilegiado enquanto leitor,
Feliz enquanto fanático,
Poderoso enquanto pensante,
Sensível enquanto tosco,
Fortaleza enquanto acessível,
Frágil enquanto adulto,
Luno enquanto aluno,
Ínfimo enquanto homem.
Como me sinto pequeno ao ler Drummond!


Deni Píàia

terça-feira, 4 de janeiro de 2011